sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Zeca - O protesto da justiça incompleta

Fez ontem 25 anos que faleceu José Afonso.
José Afonso é dos autores/compositores/intérpretes quem maior legado deixa à cultura deste país.
Infelizmente a memória de “Zeca” continua a ser vítima de preconceitos politicos. Foi e é vítima de ter naturalmente ter tido a coragem de tomar partido assumindo sempre a sua relação próxima com o PCP, e dedicou parte da sua obra aos ideais de esquerda. Essa vertente ficou indelévelmente marcada pela utilização de “Grandola Vila Morena” com senha e posteriormente Hino da revolução de Abril.
Muitas pessoas de mentalidade tacanha renunciam conhecer a obra, e pior, receiam assumir que gostam para não serem considerados comunistas. (como se isso fosse crime, ou alguma disfunção social)
José Afonso deu voz a alguns dos mais belos e marcantes fados de Coimbra. Zeca foi também muscica popular Portuguesa pura, indo as raízes do folclore e indo buscar sons e ritmos Africanos também. Cantou o amor, e os mais puros valores social em inumeras canção com poemas da sua autoria. A chamada “musica de intervenção” sendo uma parte tão importante e valiosa da sua obra como qualquer outra, é apenas uma parte de um todo que muito podemos e devemos explorar e aprender.
Por isso, abram-se as portas música de Zeca! “seja bem vindo quem vier por bem (...) e traz outro amigo também!”

         Utupia
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A vitalidade de uma grande mulher

Corria o ano de 1991, e uma família levou um miúdo, na altura sem ter completado ainda 10 anos a ver teatro de revista no Teatro Nacional Dª Maria II.
Das poucas recordações que sobrevivem dessa noite mágica na minha memória, há uma que não se apaga com o tempo.
É a memória de uma voz a solo no centro do palco, uma voz forte, mas que não era de homem. Uma voz que arrepiava, mas não metia medo…uma voz que mais tarde vim a saber pertencer a Simone de Oliveira.
Chamava-se "Passa por mim no Rossio", mas em vez de passar, ficou gravada na memória.

Simone é das personalidades portuguesas cuja presença mete respeito e ao mesmo tempo deve inspirar aqueles que ainda sendo jovens parecem ter receio de se impor a sua presença no mundo.

Simone mais do que por um talento imenso, sobressai pela personalidade.
Sobressai pela emoção com que canta puxando as notas mais improváveis através da sua voz inconfundível…e cerrando o punho as atira à nossa cara  com o mesmo descaramento e convicção com que cantou a “Desfolhada” no festival da canção de cabeça erguida e nariz empinado, desafiando a censura e o conservadorismo retrógada.

Quando, entre 1969 e 1972, um problema nas cordas vocais a impediu de cantar, Simone para sobreviver lançou mãos à escrita em Jornais e Revistas, e à Locução na Rádio e na Televisão.
Uma mulher de armas, com vontades férreas e uma elegância desconcertante! Alguém cujo rosto tão depressa é austero revelando um personalidade firme como depressa se emociona com a palavra mais doce, ou se desfaz na mais sonora gargalhada.

Simone provou-nos a todos que a beleza de uma mulher não se perde com a idade, apenas se transforma.

Fica a voz de Simone, nesse mesmo ano de 1991 em que a "conheci" a interpretar com uma intensidade única uma das mais belas letras jamais feitas para uma canção!

O poema é de José Luís Tinoco, e foi originalmente escrito para a voz de Carlos do Carmo



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Protesto pela Felicidade

Poesia Felicidade

"Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!"

Fernando Pessoa

Bate ainda mais forte ao analisar cada um destes versos o tempo que tenho vivido contrariando a receita da felicidade...
Estive demasiado tempo acomodado a fazer algo que não me fazia feliz, e revoltei-me sempre tarde de mais.
Senti saudades e tentei matá-las sozinho, ao som daquela música, a olhar aquela foto... a sonhar acordado cerrando os olhos com força na escuridão ansiosa de noites mal dormidas.
Perdi o amor, por estar eu próprio desencontrado...perdi-me na tentativa de perceber porquê e o vento cobriu as pegadas que marcavam o caminho de volta a felicidade.
Se voltar a encontrá-lo com demasiado medo de o segurar, lembrarei destas palavras...fecharei os olhos e sentirei na boca a recordação do travo da felicidade plena outrora vivida, e direi a mim mesmo: OUTRA VEZ NÃO! DESTA VEZ SERÁ DIFERENTE!
Poderá o fim ser o de sempre, é certo! Mas terei feito mais... muito mais, muito melhor, muito mais feliz!
Terá sido então diferente.
"Porque o gozo de viver está na jornada, e chegada vale bem menos que a procura! - Pedro Barroso"

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A vida, o amor e as aves

Aviso à Navegação:

Começa já daqui a pouco a 1ª noite de duas de mais um fim de semana. Facto!
Se tiverem como hobby frequente a observação de aves noctívagas passar directamente ao ultimo parágrafo, ou ir beber minis para a esplanada mais próxima.

Este texto recuperado e revisto de Abril 2006, (altura em que a estupidez na minha mente brotava elevada ao cubo) o que hoje claramente não acont..... adiante!

Deixo-vos o guia prático para o fim de semana:

O comportamento masculino quantos ás tentativas de acasalamento na noite (bar/discoteca), é digno de um documentário da N. Geoghraphic sobre aves raras.
Há pouco tempo entre os meus amigos identificámos a primeira espécie de Ave de Discoteca a que alguém chamou, Passarão de Pilaré o indivíduo que passa a noite encostado ao pilar  (um pé encostado á parede), de copo na mão a controlar tudo o que passa e observar, quando dá por si está embriagado e esquece as presas que marcou. (caracteriza-se por ser “pé de chumbo” e não se aventura na pista)

A partir desta espécie comecei a investigar e identifiquei várias outras. … Se Darwin fosse vivo haveria de me dar razão!

- Falcão: Entra em acção mal chega, identifica a “presa”, e ataca imediatamente em voo picado sem fazer perguntas, repete o ataque várias vezes a várias fêmeas até ter sucesso ou até ser escorraçado por um predador de maior envergadura.

- Andorinha: Faz o seu ninho num canto, e é ali que passa mais tempo. Esvoaça constantemente para trás e para a frente, dá voltas em redor das fêmeas, mas acaba timidamente, por voltar sempre ao mesmo “ninho” (geralmente junto ao balcão).

- Rouxinol: Tem muita Garganta, sabe cantar, canta, canta….e de tanto cantar não são raras as fêmeas que se deixam levar na “cantiga”.

- Pombo-correio: Tem a mania de andar a mandar “recados”. - Olha…a tua amiga é muito gira! Pergunta-lhe se ela quer vir  beber café comigo. etc
- Coruja: Geralmente aos pares, estão num poleiro num local elevado com vista sobre o “movimento”, passam a noite a dizer mal deste e daquele e a dizer bem desta e da outra. Sempre de olhos bem abertos e visão apurada, sabem onde elas estão mas raramente as alcançam.

- Pisco: Tem mais olhos que barriga, passa a semana a dizer que este sábado é que vai ser! Que vai comer muito e do bom, mas se acabar por encher o “papo”, com qualquer migalhita… fica satisfeito e gaba-se de ter feito um banquete.

-Abutre: Chega quase no fim da batalha, voa em circulos examinando os restos mortais das poucas fêmeas que por ali ficam àquela hora, escolhe uma vítima moribunda e ataca quando já não há concorrência! Fica com os “restos” mas não passa fome.

-*JÁ PODIAS TAR A BEBER A 1ª!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A saudade e tudo mais...

Durante estes dois anos muito mudou, na minha vida pouco interessa a mudança para o caso, mas na blogosfera é tempo da grande recessão, muito devido aos fenomenos twitter e sobretudo facebook.
Não foi por isso que deixei de escrever, o que me levou a parar foi algo que não tem razão aparente mas foi certamente tão visceral como o bichinho adormecido que me faz voltar ainda apenas com a razão de reencontrar um prazer do qual sinto saudades.
O enfraquecimento da blogosfera aconteceu sobretudo em quantidade, creio que o aparecimento das novas redes sociais acabou por filtrar grande parte do excedente de ruído de quem procurava apenas algum protagonismo e ao abrigo de um anonimato fácil,  fazer-se ouvir mais do que interagir e retirar aprendizagem da diversidade que havia (e ainda há) ao nosso alcance.
A primeira coisa que fiz neste regresso represenntou a primeira grande surpresa. Abrindo um a um a lista de links dos blogs que acompanhava surpreendime ao reparar que muitos destes velhos companheiros de aventura se mantém activos com uma vitalidade assinalável.
É sinal que os blogs hoje são sobretudo para quem sabe gostar dele, para quem os faz com qualidade e dedicação resistindo às marés das partilhas de ideias alheias temperadas com "likes" e aplicações futeis.
Conhecenmos melhor e mais depressa as pessoas através de um texto que em 10 albuns de fotos de facebook. Aqui gostamos, apaixonamo-nos, sonhamos, rimos, partilhando estes prazeres sem o preconceito de julgar à partida um rosto ou um nome.
É por tudo isto que volto hoje, até quando não sei mas enquanto durar o entusiasmo da redescoberta poderão ter de aturar muitos protestos, algumas macacadas e quem sabe até, coisas decentes :).

Feels like home!!!